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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Felicidade: só uma questão de ser



O homem vive a procurar o elixir da felicidade: poetas, filósofos, psicanalistas e religiosos atravessaram séculos construindo pensamentos utópico-filosóficos, determinando o ideal e analisando o real, sem conseguir, no entanto, encontrar a fórmula para alcançar a plena felicidade. A concretização da felicidade esteve sempre vinculada à satisfação e à realização dos sonhos que o homem idealiza, um dia, alcançar. No entanto, o limite entre os estados de felicidade e infelicidade encontra-se cada vez mais estreito, pois, ao passo que o homem saiu do campo e foi para a cidade industrializada, ele encontrou novos valores e ideias, aumentando, assim, a sua “lista” de vontades e desejos, colocando-se cada vez mais longe de realizá-los.

Segundo Roland Chemama, psicanalista francês, o desejo difere da necessidade. A necessidade provém de uma ordem natural ou biológica, é instintiva e busca por objetivos específicos; já o desejo deriva de uma ordem psíquica, é um desvio da ordem natural e os seus objetivos estão sujeitos a não serem alcançados. Na busca da felicidade, o ser humano, na maioria das vezes, confunde esses conceitos, pois a cultura acaba atribuindo valores ao desejo e à necessidade que eles não portam.

Com a configuração errônea sobre o que é necessário e desejado, o homem acaba almejando o que a sua realidade, a do mundo e a dos fatos não é capaz de lhe proporcionar. Frustrado, tenta suprir a sua infelicidade criando novos desejos. Assim, como Jacques Lacan, seguidor de Freud, disse: “o desejo é sempre o desejo de outro desejo”. Então, a capacidade de preenchimento e sensação de felicidade está “dissolvida” entre pequenas doses intercaladas de infelicidade momentânea.  

Os poetas e filósofos, ao concluir a inevitável efemeridade da felicidade, alertam para outra efemeridade que é mais preocupante: a da vida. Alternar entre fracassos e vitórias faz parte do dia a dia de toda a humanidade. A dica deixada pelos grandes pensadores é simples: viver. Viver sem se preocupar com o “tic tac” do relógio, aproveitando não só a parte alegre da vida, mas também as tristezas, pois são as frustrações que encorajam a formulação de novos desejos que, consequentemente, impulsionam o homem a buscar a felicidade, mesmo que passageira.