O homem vive a procurar o elixir da
felicidade: poetas, filósofos, psicanalistas e religiosos atravessaram séculos
construindo pensamentos utópico-filosóficos, determinando o ideal e analisando
o real, sem conseguir, no entanto, encontrar a fórmula para alcançar a plena
felicidade. A concretização da felicidade esteve sempre vinculada à satisfação
e à realização dos sonhos que o homem idealiza, um dia, alcançar. No entanto, o
limite entre os estados de felicidade e infelicidade encontra-se cada vez mais
estreito, pois, ao passo que o homem saiu do campo e foi para a cidade
industrializada, ele encontrou novos valores e ideias, aumentando, assim, a sua
“lista” de vontades e desejos, colocando-se cada vez mais longe de realizá-los.
Segundo Roland Chemama, psicanalista francês,
o desejo difere da necessidade. A necessidade provém de uma ordem natural ou
biológica, é instintiva e busca por objetivos específicos; já o desejo deriva
de uma ordem psíquica, é um desvio da ordem natural e os seus objetivos estão
sujeitos a não serem alcançados. Na busca da felicidade, o ser humano, na
maioria das vezes, confunde esses conceitos, pois a cultura acaba atribuindo valores
ao desejo e à necessidade que eles não portam.
Com a configuração errônea sobre o que é
necessário e desejado, o homem acaba almejando o que a sua realidade, a do
mundo e a dos fatos não é capaz de lhe proporcionar. Frustrado, tenta suprir a
sua infelicidade criando novos desejos. Assim, como Jacques Lacan, seguidor de
Freud, disse: “o desejo é sempre o desejo de outro desejo”. Então, a capacidade
de preenchimento e sensação de felicidade está “dissolvida” entre pequenas
doses intercaladas de infelicidade momentânea.
Os poetas e filósofos, ao concluir a
inevitável efemeridade da felicidade, alertam para outra efemeridade que é mais
preocupante: a da vida. Alternar entre fracassos e vitórias faz parte do dia a
dia de toda a humanidade. A dica deixada pelos grandes pensadores é simples:
viver. Viver sem se preocupar com o “tic tac” do relógio, aproveitando não só a
parte alegre da vida, mas também as tristezas, pois são as frustrações que encorajam
a formulação de novos desejos que, consequentemente, impulsionam o homem a
buscar a felicidade, mesmo que passageira.