Quando sentimentos ruins, como o rancor, a
raiva ou a dor de uma desilusão nos afligem, o mundo parece estar girando em
torno de nós e todos os acontecimentos da vida, bons ou ruins, parecem estar
diretamente ligados a nosso sofrimento, nos fazendo crer que sempre, de alguma forma,
são eles os responsáveis por perpetuar a nossa mágoa.
Dessa forma, nos acostumamos a inventar.
Sim, inventamos quais são os vilões e os anjos que estão por perto. E, assim,
aprendemos a simplificar o viver que, por natureza, é algo tão complexo. E a consequência
de tudo isso é “encucar” que a vida é comandada apenas por fatos e pessoas externas:
nunca somos os culpados, se esbarramos em um vaso e ele caiu e quebrou, é
porque ele estava no lugar errado.
Engraçado é perceber que até alguns meios,
como a religião, um dia buscados por nós, para entender a vida, entram na lista da consequência
causada pelo costume de inventar: igualmente, se tornam contra nós. Isso ocorre
pelo simples fato de esses meios também não serem 100% capazes de solucionar
nossos problemas e diminuir nossas dores. E aí, o que fazer?
Pois bem, a danada da acomodação, de sempre
olhar para os lados e nunca para um espelho, se torna, neste sentido, muito
perigosa. É muito fácil encontrar os defeitos e as virtudes daquilo que se
apresenta na direção da gente, pois o nosso dedo indicador estará sempre pronto
para apontar para frente e, dificilmente, faz a curva e aponta para o lado
oposto, nós.
Vale à pena olhar no espelho, pode doer,
mas é saudável aprender a olhar e apontar para nós mesmos. O perdão, talvez a cura para a nossa dor, não é só aquele que se dá quando quem nos
machucou diz “me perdoe”, mas é, principalmente, o perdão que se concretiza bem
antes, dentro de nós, nos nossos próprios pensamentos, quando percebemos que só
temos a dizer “eu me perdôo”.